A Terapia do Esquema

Você sabia que o que acontece na infância e adolescência reflete diretamente na vida adulta de uma pessoa?

Exatamente!

Por isso a terapia com crianças e adolescentes visa não apenas "corrigir" alguns comportamentos, pensamentos e sentimentos que estão atrapalhando a vida da criança no momento atual, mas auxilia também a prevenir diversos problemas na vida adulta.

As crianças possuem o que na Terapia do Esquema (TE - Jeffrey Young) chamamos de Necessidades Emocionais Básicas, que são necessidades emocionais que precisam ser acolhidas e atendidas.

As experiências vividas na infância, em conjunto com o temperamento (inato) da criança, geram o que chamamos de Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs).

Esses esquemas vão moldar nossa maneira de pensar (cognição) sobre nós mesmo e sobre o mundo, nossos comportamentos e nossos sentimentos diante das situações da vida.

A Terapia do Esquema é considerada uma abordagem integrativa; ou seja, ele une várias teorias psicológicas. Deriva principalmente da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), mas também inclui elementos da teoria do apego, da teoria das relações objetais, psicanálise, Gestalt e construtivismo.

Existem quatro conceitos principais dentro da TE: Esquemas Iniciais Desadaptativos (EID’s), modos esquemáticos, estilos de enfrentamento e necessidades emocionais.

1. Necessidades emocionais: aceitação e pertencimento, estímulo da autonomia, limites com afeto, validação da expressão das emoções e espontaneidade. Quando há falhas no atendimento dessas necessidades por parte dos pais/cuidadores, somado a questões de temperamento (a criança já nasce com seu próprio temperamento) e experiências precoces negativas os EID’s são desenvolvidos.

2. Esquemas Iniciais Desadaptativos (EID’s): são crenças elaboradas ao longo da vida, desenvolvidos especialmente na infância de experiências precoces negativas, mas não necessariamente traumáticas. São consideradas verdades incondicionais pelo indivíduo, disfuncionais, autoperpetuáveis, ligada a altos níveis de afeto e que são ativados por situações relevantes e servem como modelo para o processamento de eventos futuros.

3. Modos Esquemáticos: é um conjunto de esquemas ou operações de esquemas adaptativos ou desadaptativos – que estão ativados no indivíduo em um dado momento. O modo é o estado predominante em um determinado momento que compreende emoções, as cognições e os comportamentos específicos, estratégias de enfrentamento que estão ativados no momento. Mudamos para modos desadaptativos quando necessidades primordiais não são cumpridas e os esquemas são acionados.

4. Estilos de enfrentamento: são as formas que temos de enfrentar as situações. Envolve, muitas vezes, erros de pensamento (distorções cognitivas) e a utilização de comportamentos que nem sempre são benéficos. Os estilos de enfrentamento são:

- Hipercompensação: a pessoa investe em uma batalha contra o esquema com o qual ela se depara. Ao fazer isso ativa uma série de comportamentos, como a autocrítica, para contra-atacar os pensamentos e cognições originadas pelo esquema, por exemplo, a pessoa tem uma autoestima rebaixada, mas sempre tenta se colocar em uma postura de superioridade, um chefe controlador ou abusivo.

- Resignação: a pessoa inconscientemente aceita aquele esquema como real e vai agir de maneira a sempre reforçar e perpetuar esse esquema. Por exemplo, uma pessoa que tenha o esquema de abandono tende a escolher parceiros mais propensos à trair, reforçando a ideia de que ela sempre será abandonada.

- Evitação: a evitação é uma decisão inconsciente de não ativar o esquema mental. Assim, a pessoa foge das suas responsabilidades e busca escapar de qualquer sentimento ou comportamento que possa ativar o esquema mental. Por exemplo, uma pessoa insegura falta em uma entrevista de emprego, dessa maneira evita o sentimento de rejeição. Pessoas que usam com mais frequência esse tipo de estratégia de enfrentamento estão mais propensas a utilizar substâncias psicoativas e fazer abuso de drogas.

Portanto, a Terapia do Esquema é ampla e utiliza recursos de diversas abordagens psicológicas, dependendo da necessidade de cada indivíduo e/ou família.

Distorções Cognitivas

À partir do esquemas desenvolvidos acima, as pessoas podem apresentar diversas distorções cognitivas, que seriam interpretações inprecisas sobre determinada situação. É necessário identificar essas distorções e ressignificá-las.

1. Catastrofização

A catastrofização é uma distorção da realidade em que a pessoa é pessimista e negativa em relação a uma situação que aconteceu ou que vai acontecer, sem ter em consideração outros possíveis desfechos. Exemplos: "Se perder o emprego, nunca mais vou conseguir encontrar outro", "Errei uma pergunta no exame, vou reprovar".


2. Raciocínio emocional

O raciocínio emocional acontece quando a pessoa assume que as suas emoções são um fato, ou seja, considera aquilo que sente como verdade absoluta. Exemplos: "Sinto que os meus colegas falam de mim nas minhas costas", "Sinto que ela já não gosta de mim".


3. Polarização

A polarização, também conhecida por pensamento tudo ou nada, é uma distorção cognitiva em que a pessoa vê as situações em apenas duas categorias exclusivas, interpretando situações ou pessoas em termos absolutos. Exemplos: "Deu tudo errado na reunião que aconteceu hoje", "Fiz tudo mal".


4. Abstração seletiva

Também conhecida por visão em túnel, dá-se o nome de abstração seletiva a situações em que apenas um aspecto de uma determinada situação é realçada, principalmente o negativo, ignorando os aspectos positivos. Exemplos: "Ninguém gosta de mim", " O dia correu todo mal".


5. Leitura de pensamento

A leitura de pensamento é uma abstração cognitiva que consiste em adivinhar e acreditar, sem evidências, no que as outras pessoas estão pensando, descartando outras hipóteses. Exemplos: "Ele não está prestando atenção no que estou a dizer, é porque não está interessado."


6. Rotulação

Esta distorção cognitiva consiste em rotular uma pessoa e defini-la por uma determinada situação, isolada. Exemplos: "Ela é uma pessoa má", "Aquela pessoa não me ajudou, é egoísta".


7. Desqualificação do positivo

Há desprezo e falta de reconhecimento pelos acontecimentos ou pelas coisas boas que foram feitas e/ou alcançadas. Exemplos: "Foi sorte", "Não fiz nada, poderia ter acontecido com qualquer pessoa".


8. Imperativos

Esta distorção cognitiva consiste em pensar nas situações como deveriam ter sido, em vez de se concentrar en como as coisas são na realidade. Exemplos: "Eu deveria ter ficado em casa com meu marido", "Eu não devia ter vindo na festa".